O emocionante primeiro voo de Lara, a arara que
teve de aprender a viver em liberdade.
Ibama e ONG soltam cerca de 29 araras-canindé e tucanos apreendidos no
comércio ilegal de animais; muitas das aves resgatadas do tráfico precisam ser
'treinadas' para se adaptar.
Em novembro de 2016, a arara-canindé Lara foi resgatada,
ainda bebê, pela polícia de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, quando era vendida
por traficantes de animais.
Foram necessários oito meses para que Lara fosse
libertada. Nesse período, ela precisou "aprender a ser arara".
"É um processo quase traumático, voltar
à liberdade. É como uma pessoa que está presa há muito tempo e precisa
descobrir o que fazer sozinha", disse à BBC Brasil Roched Seba, diretor da
ONG Instituto Vida Livre.
Lara faz parte de um grupo de 14
araras-canindé e seis tucanos que foram reabilitados pelo Ibama e pelo
Instituto Vida Livre, e libertadas próximo a Aragoiânia, Goiás, no último fim
de semana.
“A arara-canindé é um problema muito grande
no Brasil inteiro, porque elas como são muito numerosas e comuns de serem
vendidas como animais de estimação, acabam em feiras, nas casas das pessoas ou
abandonadas."
Escola de pássaros
Após o
resgate, Lara e outros pássaros foram examinados e tratados na unidade de
triagem do Ibama em Seropédica, no Rio.
"Ela chegou bem magrinha e desidratada,
mas, como era filhote, a reabilitação foi até mais fácil", disse à BBC
Brasil a veterinária Taciana Sherlock, do Ibama, que coordena o projeto.
"O processo pode durar mais de seis meses,
a depender do tempo que o animal ficou em cativeiro. Alguns não conseguem mais
se reconhecer como araras, de tão domesticados que são. Precisamos isolá-los do
contato com humanos."
No centro, os pássaros são submetidos a
exames de sangue, coleta de parasitas, e avaliações da estrutura muscular, da
integridade das penas e da capacidade de voo.
Em um viveiro, eles são estimulados a voar
de um lado a outro, para fortalecerem as asas e reaprenderem a se movimentar
fora das gaiolas.
“Algumas nunca terão condições de voltar
para a natureza porque são muito idosas, muito mansas ou têm mutilações nas
asas", diz Seba.
Antes mesmo de receberem o treinamento, os pássaros resgatados já tiveram a
sorte de sobreviver.
Cerca de 40 milhões de animais são vítimas
do tráfico de fauna todos os anos no Brasil, segundo Sherlock. A maioria deles
são aves.
Dados recolhidos pelo Ibama mostram que para
cada animal vendido, nove morrem nos processos de captura, transporte e venda.
Voo
Na semana
passada, Lara e suas companheiras enfrentaram uma jornada de 15 horas, que
incluía seu primeiro voo de avião, para chegar a uma fazenda em Goiás, onde
seriam soltas.
Lá, elas permaneceram por cinco dias em
outro viveiro, enquanto se adaptavam ao novo ambiente. Mas a viagem não
necessariamente significou uma volta ao lar.
“Um problema muito grave que temos com
araras e tucanos é que eles são deslocados de suas áreas de ocorrência natural.
Não dá para saber exatamente de onde saiu cada um”, explica Seba.
Para facilitar, os pássaros são soltos em
Goiás, uma das áreas onde estão biologicamente bem adaptados a viver.
As araras-canindé ocorrem no Centro-Oeste
brasileiro, no Cerrado, no Pantanal e em algumas áreas da Amazônia. Mas já
foram registradas da Bolívia até o sul do México.
Quando a porta do viveiro foi aberta, Lara
foi uma das primeiras a dar uma volta.
O cativeiro ainda ficará disponível para que
algumas das araras e tucanos voltem para dormir, enquanto se acostumam com a
liberdade.
Postado por: Giovana M. de Araújo
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