sexta-feira, 7 de abril de 2017

Cientistas desvendam 600 plantas amazônicas

Grupo quer mapear espécies de bioma menos conhecido do que o da Mata Atlântica

Cientistas desvendam 600 plantas amazônicas
Força-tarefa. Mapeamento envolve 74 botânicos de 22 instituições, que viajam para a floresta para coletar amostras


RIO - Nem tudo são florestas e árvores gigantes, quando se fala na vegetação amazônica. Na Serra de Carajás, no sudeste do Pará, no topo de morros de 800 metros de altitude, se espalha uma vegetação rasteira que recobre os campos ferruginosos, também conhecidos como cangas. Uma pesquisa que reúne 74 botânicos de 22 instituições do País e do exterior propõe revelar parte dessas espécies, algumas em risco de extinção.
O grupo descreveu 600 espécies, entre samambaias, musgos, flores. O estudo, parceria do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Tecnológico Vale (ITV), será publicado em três volumes da Rodriguésia, prestigiada publicação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O primeiro, lançado neste mês, descreve 235 espécies.
“O bioma da floresta amazônica é o mais desconhecido do País. São 11 mil espécies descritas. A Mata Atlântica, uma tripa na parte leste do País, tem 15 mil espécies conhecidas, mais do que na floresta amazônica. Só tenho uma conclusão: falta conhecimento da flora amazônica”, afirma a botânica Ana Maria Giuliette, uma das coordenadoras do projeto, ao lado do botânico Pedro Viana.
A dificuldade de acesso e o escasso financiamento para esse tipo de pesquisa estão entre as causas para o pouco conhecimento da região. Para alcançar as áreas de cangas, muitas vezes só é possível chegar de helicóptero. “É muito difícil subir no ponto mais alto. Estradas são péssimas e há muitas árvores caídas. E é quando floresce que mais chove, o que dificulta ainda mais o trajeto”, diz ela.
A Floresta Nacional de Carajás tem 400 mil hectares. Entre 2% e 3% da região é de cangas. O Museu Goeldi fez as primeiras pesquisas sobre as plantas locais nos anos de 1970, no início da mineração em Carajás. Nos afloramentos de minério de ferro, onde não crescem árvores, pesquisadores iniciaram a coleta de pequenas plantas que recobriam a região. Em 2015, botânicos voltaram às áreas de canga para nova coleta sistemática.
“É preciso ter ideia de como são as plantas na natureza. Quando florescem? Quando produzem frutos? Tudo isso é importante quando a gente pensa em recuperação da área. A legislação diz que temos de usar sementes da mesma área para recuperar um trecho de mata. semente? Só saberemos fazendo esse acompanhamento”, afirma Ana Maria. “A União Internacional para Conservação da Natureza recomenda que esse monitoramento dure 10 anos. Estamos só começando”.
Catálogo. Entre as espécies estudadas está a flor de Carajás, espécie em perigo de extinção. A planta, uma trepadeira, pode atingir três metros. Os pesquisadores viajaram por dez dias na área da Serra Norte da Floresta Nacional de Carajás, único local em que a planta foi achada.
Após a coleta, exames de DNA revelam quais plantas são filogeneticamente próximas, ou “aparentadas”. A partir daí são identificadas família, gênero e espécie. Cada uma ganha ilustração a bico de pena e algumas têm fotografias de campo. Todas são georreferenciadas para permitir que pesquisadores as encontrem na natureza, no caso de nova coleta. E a flora é armazenada no Museu Goeldi.
“Com esse contingente de pesquisadores foi possível fazer a flora correta, autenticada, em pouco tempo como fizemos. Em nenhum lugar se produz flora em dois anos, como estamos fazendo com Carajás, com 600 espécies. Só pudemos fazer isso porque tivemos essa base coletada anteriormente pelo Museu Goeldi e porque contamos com todos os especialistas. Esse estudo permite que sejam recuperadas áreas afetadas pela mineração”, diz Ana Maria.
Postado por: Giovana M. de Araújo

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Região de recifes no rio Amazonas é maior bioma marinho do mundo

Menos de 1% da margem equatorial brasileira foi estudada até agora

O resultado das últimas pesquisas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) descobriram que bioma recifal marinho amazônico, na foz do rio Amazonas, é o maior bioma marinho do mundo. Os pesquisadores constataram que a região tem pelo menos 50 mil quilômetros quadrados.
A equipe de pesquisadores atua em um programa que tem o objetivo científico de investigar a história e a estrutura da Terra, a partir de pesquisas oceanográficas. O programa reúne parte significativa da comunidade científica atuante nas ciências do mar em águas profundas de diversos países.
A expedição deste ano foi realizada em parceria com o Greenpeace, que tem denunciado a ameaça de exploração de petróleo na região do bioma, o que colocaria em risco um ambiente que só agora começa a ser estudado.
“A parceria com o Greenpeace foi fundamental para as descobertas científicas e para o desenvolvimento do conhecimento na região”, contou Fabiano Thompson, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Além de possuir meios flutuantes e equipe de bordo altamente competente, o Greenpeace traz à tona a problemática da produção de energia limpa e renovável no contexto global”, acrescentou o pesquisador.
Para Thompson, o estudo tem relevância para a realidade brasileira, ao mesmo tempo que nos coloca frente a um paradoxo. “A margem equatorial brasileira [e da Amazônia] é a região mais cobiçada por grandes nações desenvolvidas e, ao mesmo tempo, a região menos conhecida da nossa nação. Nosso entendimento das riquezas e potenciais da margem equatorial é muito reduzido, nos colocando em uma posição desfavorável frente aos desafios globais.” Segundo o pesquisador, menos de 1% da margem equatorial brasileira foi estudada até agora.
Postado por: Giovana M. de Araújo